20 anos de Oficinas num Convento por Gerbert Verheij

Folha de Montemor Janeiro 2018 Net 01 - artigo-convento-page-001“A 16 de Dezembro do ano findo as Oficinas do Convento lançaram um livro e um filme, ambos com o título 20 Anos de Oficinas num Convento, para lembrar e celebrar os primeiros vinte anos de actividade da Associação, criada em 1996. Frutos de uma campanha de angariação realizada em 2016 entre colaboradores e amigos, são o resultado de um mergulho a fundo pelos arquivos da associação e as memórias de fundadores, colaboradores e acompanhantes.

A festividade teve lugar na Quinta do Plansel, e foi antecedida com uma visita à colecção de arte de Jorge Böhm, fundador do empreendimento vinícola e também coleccionador de arte. A sua colecção cobre sobretudo a arte alemã do último terço do século passado, sobre a qual falou com entusiasmo. A apresentação do livro, primorosamente desenhado por Joana Torgal, e do filme, realizado por Pedro Grenha, Rodolfo Pimenta e Rui Cacilhas, teve lugar nas caves da quinta, por entre os grandes tanques em aço inoxidável onde se conserva o vinho. Foi acompanhada pelas palavras de Virgínia e Tiago Fróis, respectivamente fundadora e actual presidente da associação, e da presidente da Câmara Municipal, Hortênsia Menino, que insistiu na relevância deste projecto para o município. Uma generosa prova dos nobres vinhos da Plansel ajudou a aquecer os presentes e preparar o leilão de arte que encerrava o programa.

 

O livro, que pode ser adquirido através do e-mail oc@oficinasdoconvento.com, recolhe as vozes de 33 autores. Cada um traz a sua voz e inquietudes resultando numa grande diversidade de formatos, entre relatos, memórias, reflexões e muitas imagens. São abordadas áreas centrais na actividade da associação, desde a arquitectura e a cerâmica à electrónica, fotografia, música e investigação, mas também o que implica fazer programa cultural descentralizada ou como manter o vínculo com a vida comunitária local. Fala-se das origens da associação, dos lugares da cultura e dos caminhos da liberdade, de memória, rio e paisagem, de djambés, cavaquinhos e sonosculturas, de artes digitais, poéticas tecnológicas e construção vernacular. Fala-se da aventura cabo-verdiana, da responsabilidade que trazem os cuidados do lugar que se ocupam, da forma como as coisas nascem umas das outras e redes de relações e afinidades vão crescendo, e da complementaridade entre saber e fazer neste “tempo onde abunda a teoria e onda a prática é pouco valorizada.”

Outras palavras-chave repescadas do livro e do filme (disponível no YouTube): resistência e persistência, inquietudes e curiosidade, acolher, partilhar e conviver, juntar, cruzar e integrar, crescer. Também de cidadania e fé (“um convento precisa de fé para se alimentar durante o tempo, não importa qual,” escreve José M. Rodrigues). A diversidade de vozes reflecte bem a variedade de percursos que se cruzaram e continuam a cruzar-se no Convento de S. Francisco, ao mesmo tempo laboratório, espaço de investigação e produção, estrutura de apoio e janela sobre a contemporaneidade, que traz, nas palavras de Ana Paula Amendoeira, Directora Regional de Cultura do Alentejo, “outra visão de futuro, utopicamente real.”

Porque em cada memória há também um olhar para o futuro. “Estamos sempre no início,” nas palavras de Tiago Fróis. Em conversa com a Folha define a recuperação do Convento de S. Francisco e a profissionalização da equipa como os principais desafios para o futuro. “Montemor-o-Novo é actualmente conhecida como uma cidade-protótipo de ponto de vista cultural, e as Oficinas do Convento tem cada vez mais vindo a funcionar como uma estrutura que possibilita que outras coisas vão acontecendo, aberto a necessidades actuais e futuras, e a propostas que vão chegando. É por isso urgente melhorar as condições para acolher e potenciar com mais qualidade pessoas, projectos e ideias.” Tanto que já se fez, e tanto ainda por fazer, como o põe Sara Antónia Matos no prefácio do livro, que por isso mesmo é dedicado a “quem está por vir.””

(texto jornal Folha de Montemor, Janeiro 2018)