Vergar Ataraxia
Stéphane Blumer

BREVE MENTE APRESENTA // 

A ataraxia é uma ausência de interesse ou de resposta a estímulos externos. Questionar essa indiferença está ligado, em primeiro lugar, ao sítio onde a galeria Breve Mente se encontra. Situada em frente a um semáforo, do qual o sinal vermelho testa a paciência dos/das automobilistas, o tédio, aqui, é (re)compensado por trabalhos artísticos esporadicamente expostos em vez de publicidades pomposas. A ataraxia também relaciona-se com a apatia possível diante das deslocações políticas lentas e, então, facilmente ignoradas ou menosprezadas. As mesmas, porém, têm consequências de longo prazo e fazem ressurgir “zumbis” que pensávamos extintos. Em filosofia, ataraxia também pode ser tranquilidade. Representa a impassibilidade de uma alma que se tornou dona de si mesma através da sabedoria adquirida quer pela moderação na busca dos prazeres, no Epicurismo, quer por uma apreciação exacta do valor das coisas, no Estoicismo, quer pela suspensão do juízo, no Ceticismo (CNRTL).

A série Vergar Ataraxia foi concebido durante uma residência artística que fiz com o meu filho e a minha companheira, Sofia Lopes Borges, nas Oficinas do Convento, em julho de 2024. Faz parte de uma investigação sobre a linguagem corporal, a censura e a pluri-semântica dos gestos políticos e religiosos. A minha intenção com essa série é explorar a gramática da dualidade sem chegar a conclusões maniqueístas, regidas unicamente por uma oposição entre o bem e o mal,
porém explicitamente expondo oposições nas quais a audiência deve se situar.

O VERGO DA ATARAXIA

As mãos reunidas transpiram
Mudando de opinião ao batalhar
As mãos juntadas transmitam
Prélio e rendição, quietude e raiva
As mãos articuladas travam
Tentativas tumultuosas
As mãos ligadas transparecem
Insectos alienígenas
As mãos associadas transportam
Os confins do espaço


BIOGRAFIA
Stéphane Blumer é artista plástico e antropólogo, mestre em Belas Artes pelo Goldsmiths, Universidade de Londres, e doutor em Antropologia Social pela EHESS, Paris. Leccionou artes em Genebra (2018-2024), sociologia e antropologia na Universidade de Paris Nanterre (2016-2020) e dirigiu workshops e seminários em toda a Europa. A sua pesquisa se concentra nas teorias críticas da arte e do design, da antropologia e da sociologia política, examinando os novos modelos emergentes de gestão individual e coletiva em meio às crises climáticas e socioeconómicas.
Através da ficção especulativa e de cenários prospectivos, investiga realidades pós-capitalistas, ideologias de colapso e as tensões entre ecossistemas e egosistemas.
Da escultura ao som e vídeo, passando pela performance e o desenho, o seu trabalho toma forma de instalações que combinam uma estética minimalista com uma saturação sensorial. Seja digital ou analógico, os seus materiais são inventários reciclados que contêm uma forte carga cultural, procurando tensões de valor que possam transpirar dos meios utilizados. As suas instalações combinam narrativas ficcionais voltadas para futuros, mantendo uma profundidade histórica e um caráter in situ ligado aos contextos específicos nos quais as obras são expostas.
Bolseiro e expositor internacional, o seu trabalho foi apresentado em museus, centros de arte contemporânea, galerias de arte, feiras e espaços alternativos, associativos e públicos no Reino Unido, Suíça, Portugal, Itália, França, Alemanha, Canadá e China. Atualmente, é investigador associado no Laboratoire de Antropologia Política da EHESS, Paris, e investigador colaborador no CISC da NOVA Universidade, Lisboa. Ensinou sociologia e antropologia na Universidade de Paris Nanterre, artes visuais em Genebra e codirige o comıtė, um centro de pesquisa em artes e ciências sociais em Lisboa.

  • BREVE MENTE

nov 2024 a jan 2025

OFICINAS DO CONVENTO

Duração
6 novembro a 6 janeiro

Local
Carreira de São Francisco / Edifício GUS

Mais inf
brevemente@oficinasdoconvento.com