No seguimento da convocatória – TIJOLO (2025), as propostas selecionadas para integrar a Residência Artística na Associação, durante 4 semanas no mês de maio, apresentação agora, no dia 31 de maio, o seu projeto final ao público.

Alberto Salgado Harres, com o projeto Arque-Escrituras, explica:

Esta pesquisa propõe uma releitura do painel de azulejos que se encontra na Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, e que representa as Cortes de 1495 no Paço dos Alcaides — momento em que D. Manuel I autorizou a viagem de Vasco da Gama rumo à Índia. Este episódio pode ser compreendido como o primeiro passo do expansionismo marítimo e do projeto colonial português. A cerâmica funciona aqui como meio de inscrição dessa história oficial, resistindo ao tempo e perpetuando essa narrativa supostamente heróica.

A instalação oferece um contraponto a essa narrativa. A partir de uma reprodução do painel por gravação a laser, os azulejos tornam-se a matriz negativa da imagem original: uma releitura do painel, transformada em um dispositivo de memória material que pode resistir ao tempo como o original. Esta nova inscrição, contudo, não busca celebrar o gesto fundador de um império, mas lembrar suas graves consequências.

Com uma metodologia que entende a terra, o barro, como testemunha que guarda e transmite fragmentos de memória, a obra reinscreve a cerâmica como alternativa para a criação de sistemas de memória localizados — contra-arquivos que desafiam a narrativa dominante a partir da perspectiva do próprio material.

EN: 

Arche-writings: an anti-epigraph of a colonial monument.

This research proposes a reinterpretation of the tile panel located in Montemor-o-Novo City Hall, which depicts the 1495 Cortes at the Paço dos Alcaides—the moment when King Manuel I authorized Vasco da Gama’s voyage to India. This episode can be understood as the first step of Portuguese maritime expansion and colonial enterprise. The ceramic functions here as a means of inscribing this official history, resisting time and perpetuating this supposed heroic narrative.

The installation offers a counterpoint to this narrative. From a reproduction of the panel by laser engraving, the tiles become the negative matrix of the original image: a remaking of the panel, transformed into a material memory device that can withstand time like the original. This new inscription, however, does not seek to celebrate the founding act of an empire, but to remind of its dire consequences.

Using a methodology that understands earth, clay, as a witness that holds and transmits fragments of memory, the work resignifies ceramics as an alternative for creating localized memory systems—counter-archives that challenge the dominant narrative from a material perspective.