
Nos últimos anos têm-se registado um aumento da violência contra as mulheres no mundo ocidental. Estes atos não são uma novidade na história da humanidade nesta parte do globo. São milenares os atos de opressão, manipulação, trabalho físico forçado, trabalho emocional unilateral, dominação da liberdade intelectual, reprodutiva e sexual. Esta violência sobre as mulheres é largamente perpetrada pelos homens. Apesar deste abuso, onde quer que estivessem, as mulheres utilizaram uma arma mais subtil, silenciosa e discreta para eliminar os homens que infligiram violência sobre elas: o veneno.
Há uma história que nos últimos anos ressurgiu sobre esta prática: No século XVII no reino da Sicília, duas mulheres começaram uma revolução que se tornaria prática em última instância até ao século XX.
Irei contar uma pequena história.
Teofania di Adamo e Franscesca de la Sarda desenvolveram uma substância à base de arsénio incolor e inodoro que seria vendido numa embalagem de perfume a mulheres que não conseguiam ver um fim à miséria diária da vida conjugal forçada. Esta dupla foi apanhada e executada por heresia.
Anos depois Giulia Tofana, (crê-se filha de Teofania) viajou até Roma com a receita da mãe que lhe chamou de “Aqua Tofana” e reinventou a embalagem como água benta, chamando-lhe “Manna di San Nicola”, uma água supostamente feita com os ossos de São Nicolau. Giulia seria então a chefe de um gangue feminino que faria a distribuição deste produto por Roma.
Este veneno fez vítimas substanciais que chamaram a atenção das autoridades na altura e ao fim de 30 anos, o gangue foi desmantelado. As distribuidoras foram presas, mas Giulia fugiu sem deixar rasto.
Este acontecimento catapultou o uso desta ferramenta mortífera e esta prática espalhou-se por toda a Europa, em todas as classes sociais.
Atualmente deparamo-nos com uma dificuldade semelhante em que a justiça não cumpre o seu dever com as mulheres e os criminosos vivem impunes. Este projeto não pretende reavivar esta prática, mas antes questionar – O que fazer quando a justiça em estados aparentemente democráticos não funciona?
O projeto serve principalmente para mostrar através desta reflexão, a destreza e resiliência da defesa pela sobrevivência e liberdade do coletivo feminino, numa história que aparenta ser eterna.
Nesta residência será realizada em cerâmica, várias peças de embalagens onde veneno, em forma de pó ou em estado líquido, pudesse ter sido armazenado. O tipo de peças varia de tipologia em consideração dos diferentes objetos utilizados no tempo. Estes transitam entre a realidade histórica e o imaginário.
Biografia
Catarina Cunha nasceu em Setembro de 1996 em Vila Franca de Xira. Na escola secundária frequentou o curso de Artes Visuais e em 2014 ingressou na licenciatura de Design de Produto – Cerâmica e Vidro da Esad.Cr nas Caldas da Rainha. Frequentou dezenas de cursos de curto e médio prazo no Cencal – Centro de Formação Profissional para a Indústria da Cerâmica tanto na cerâmica como no vidro. No ano de 2017 – 2018 realizou um ano de Erasmus na escola superior ISIA Faenza em Itália, cidade histórica da cerâmica onde teve também contacto com outros médiuns artísticos como a moda.
Ao longo dos anos participou em diversas formações sempre na área da cerâmica em diferentes entidades.
Atualmente vive e trabalha em Lisboa como gerente de um estúdio de cerâmica em São Bento.
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