CENTRO MUTÁVEL

O projecto Centro Mutávelum ciclo de workshops ministrados por artistas convidad@s, conversas com especialistas de áreas diversas e uma exposição, tudo a acontecer no biénio 2021/2022 em Montemor-o-Novo e Lisboa.

Artistas convidad@s:

Ana Cardoso

Armanda Duarte

Belén Uriel 

Guarda Rios

Inês Teles 

Os Espacialistas

Ricardo Jacinto

O projecto é uma iniciativa Oficinas do Convento – Associação Cultural de Arte e Comunicação, estrutura financiada por Câmara Municipal de Montemor-o-Novo e DgArtes, em co-produção com Vicarte- Vidro e Cerâmica para Artes, a Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa.

Os curadores do projeto são os artistas e investigadores João Rolaça e Margarida Alves, doutorandos em Escultura da Faculdade de Belas Artes e membros Vicarte.

@s Artistas foram convidados a desenvolver um workshop, utilizando os espaços e recursos da Oficinas do Convento e da Vicarte, numa partilha do seu processo criativo com @s participantes, de forma a abordar de forma expandida o tema central deste projecto – uma ideia mutável de centro, que pode ser observada por várias perspectivas e pontos de vista críticos e conceptuais:

  1. a) geométricos, onde o Centro se afasta da equidistância imutável e assume uma oscilação inerente à natureza poiética da matéria;
  2. b) atómicos, nos quais as partículas ínfimas se expressam através de uma condição corpuscular e ondulatória, inferindo-se a presença, o Centro da existência, através da sua ausência, do rasto das suas acções;
  3. c) heterotópicos, onde diferentes espaços (reais ou imaginários) nos habitam; 
  4. d) culturais, nos quais os grandes pólos têm o potencial de se deslocalizar e expandir; 
  5. e) geográficos, incidindo-se em reflexões acerca do território e do lugar; 
  6. f) existenciais, nos quais o Centro do Ser decorre da consciencialização do(s) sentido(s) que o mesmo dá à sua vida; 
  7. g) metafísicos, onde o princípio ontológico se desdobra numa natureza sensível e num envolvimento supra-sensível, transcendente, que permeia e constitui o Ser.

Os workshops vão acontecer em vários lugares e ambientes de Montemor-o-Novo entre Maio e Outubro de 2021, e duram entre 1 a 5 dias, mediante decisão d@ artista.

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OLHO NO DEDO – Inês Teles

4 e 5 de Setembro 2021

Para “colapsar a distância que separa o observador do local de experiência óptica”1, realizamos neste workshop um conjunto de experiências que procuram incluir o movimento, a mão e o olho na criação de um objecto artístico.

Após uma visita ao rio Almansor, usaremos a referência da água como superfície refletora, instável e amorfa que, tal como uma lente, distorce a realidade e permite criar instrumentos mediadores da experiência visual. Durante as duas sessões, teremos acesso a objectos de vidro, formas côncavas e assimétricas que funcionarão como contentores de água. Estas formas serão usadas para construir dispositivos de captação de imagem, recorrendo também a outros materiais, como pigmentos naturais (coloração da água), tilose (densidade líquida), objetos/estruturas  (inclinação, derrame e equilíbrio/contenção da água).

Os exercícios práticos focam-se na observação e procura de imagens que permitem criar e experimentar outros processos criativos – desenhos, aguarelas, papel marmorizado, vídeos, performance, fotografia, land art, etc.

Referência Bibliográfica:

1 – Jonathan Crary, Técnicas do Observador, tradução Nuno Quintas, Edição Orpheu Negro, 2017, p. 216.

Locais: Rio Almansor e Oficinas da Cerâmica e da Terra 

AMBIENTE FLUTUANTE – Ana Cardoso

18 de Setembro 2021 (online) | 25 de Setembro 2021 

Pensamos o legado conceptual de Sol LeWitt enquanto exploramos a relação entre pictórico e virtual através da composição de uma pintura sobre cerâmica. O azulejo é em si um módulo, ou um pixel, e um painel de azulejos forma uma imagem mutável, passível de ser reconfigurada indefinidamente.

Neste workshop, vamos definir um conjunto de parâmetros, um alfabeto de gestos e sensações para criar uma obra colaborativa: um painel de azulejos pintados à mão a partir da reinterpretação de Wall Drawing #122 (1972) – um desenho com instruções de Sol LeWitt. As instruções propõem a execução de um desenho (sobre a totalidade duma parede, de escala arquitectónica), e apresentam pares de quatro tipos de linhas — rectas, onduladas, arqueadas e tracejadas — que se cruzam a partir dos cantos ou lados dos quadrados que ocupam em todas as 190 possíveis combinações dentro de uma grelha regular.

Num encontro preliminar e online, Ana Cardoso faz uma introdução à sua Obra e à de LeWitt e propõe alguns exercícios, reflexões e leituras aos participantes. Na sessão presencial aplicam-se as ideias e executa-se a pintura sobre azulejo.

AMBIENTE FLUTUANTE será concluído com a instalação da peça colaborativa num espaço público da cidade de Montemor-o-Novo.

AMBIENTE FLUTUANTE acontece em duas sessões:

18 de Setembro (online) 14h-15:30h

25 de Setembro nas Oficinas da Cerâmica e da Terra, em Montemor-o-Novo, 10h – 16h (almoço 13h-14h)

PROCURA-SE CASA – Os Espacialistas

18 e 19 de Setembro 2021

As casas nascem, crescem, vivem, reproduzem(-nos), envelhecem e morrem como nós. Visitam-se umas às outras através dos sonhos e das memórias de quem se demora nelas.

Têm corpo. São corpo. São o v/entre doméstico da vida e da morte. São sopros i/materiais. São a resposta poética do corpo às contingências i/morais da natureza. Têm de ser r/existência. São máquinas ontológicas de re/produção de desejo e afectos. Têm chaminés e lar/eiras de tijolo. São “tomadas” de hesitação e consciência.

Conscientes de que uma casa é o reflexo fisiológico das necessidades reais e imaginárias do corpo humano, Os Espacialistas partem em direcção ao espaço à procura de casa, à procura do lugar do corpo que faz casa, do lugar do corpo que é casa, da casa anatómica amassada do corpo.

Entre corpos e casas, a partir das palavras e das coisas que nos entornam vamos esgotar todas as possibilidades de errar, esvaziar, falhar, hesitar, ligar e reparar cada vez melhor n/as casas invisíveis que nos envolvem e que só a intensidade da visitação de cada gesto físico/imaginário da nossa atenção pode fazer aparecer.

As casas querem corpo. Quem casa quer corpo. O corpo quer casa.

O que pode um corpo? Pode ser uma casa (de jogo). O que pode uma casa? Pode ser um corpo em jogo (sem orgãos).

Os Espacialistas são pro/curadores de casas. Não há casas sem corpo nem corpo sem ca(u)sas.

Venham PRO/CURAR casas connosco!

Locais: Telheiro da Encosta do Castelo + Castelo de Montemor + Cidade

EM TORNO DE OBJECTOS COMUNS – Belén Uriel

2 e 3 de Outubro | 9 e 10 de Outubro 2021

Este workshop consiste num exercício de experimentação plástica em torno de objectos comuns, de uso quotidiano, entendidos como extensões do próprio corpo.

Propomos explorar o potencial escultórico destes objectos, tomando em consideração as relações inerentes à sua produção, materialidade e uso. Estes objectos serão transformados, alterando a materialidade e forma, mantendo ainda assim, a referência à sua origem.

Através da criação de moldes de gesso, as formas serão replicadas, reorganizadas e reconfiguradas, de modo a conceber um novo objecto. A tiragem por via líquida de peças cerâmicas – um processo intimamente ligado aos meios de produção em massa de objectos comuns – é a técnica adoptada neste workshop.

Será potenciado o trabalho em torno da relação recíproca entre um objecto e o corpo que o usa, salientando-se a ideia de ‘impressão corporal’ que se preserva e explora nos objetos aqui produzidos.

Oficinas da Cerâmica e da Terra 

SILÊNCIO E HORIZONTE ACÚSTICO – Ricardo Jacinto

5 de Outubro 2021

Sendo o horizonte acústico definido pela “maior distância, em todas as direções, de onde os sons podem ser ouvidos”, podemos sugerir que só além desse limite perceptivo existe silêncio, e que este é imaginado. O Silêncio torna-se assim um exercício de especulação e apresenta-se como o horizonte do som. Como podemos explorar criativamente este horizonte?

Esta oficina terá inicio na blackbox das Oficinas do Convento, estendo-se a uma caminhada passando por várias localizações na cidade de Montemor-o-Novo e arredores, e terminando numa instalação colectiva no espaço da blackbox. Terá a duração de um dia e será dividida em 3 momentos:

10h às 13h – o primeiro compreende o contacto e discussão do conceito de Horizonte Acústico, acompanhado por exercícios de escuta e gravações sonoras em diferentes localizações da cidade de Montemor-o-Novo, que conduzirão os participantes a experimentar e materializar esta noção associando-a a lugares e situações específicas.

13h às 14h – Pausa para refeição

14h às 18h – o segundo momento centra-se na exploração de objectos cerâmicos como corpos ressonantes, através da utilização de tecnologias de emissão e captação sonora de contacto (transdutores e microfones), numa articulação desses objectos com as gravações de campo recolhidas no primeiro momento. Cada participante será convidado a pensar criativamente a relação entre os “corpos cerâmicos vibratórios”, o material sonoro recolhido e o espaço da blackbox.

18h às 19h – Pausa para refeição

19h às 21h – concretização de uma instalação recorrendo aos materiais recolhidos e experimentados ao longo do dia.

a partir das 21h – apresentação livre do resultado da Oficina.

Local: Oficinas do Convento

NO BORDO DA LENTE – Armanda Duarte

16 de Outubro 2021

A ideia de microscópico, embora não dissociada da sua matriz científica, é aqui entendida como um movimento ínfimo, sujeito a gestos como abrir, destapar, esburacar, cavar, ou outros. Trata-se de uma abordagem de desenho – nas suas múltiplas expressões – em que uma ideia vinda do interior do corpo sofrerá novas e progressivas fases de transformação e aprofundamento.

Um primeiro momento dá-se no interior de uma antiga cisterna na encosta do castelo.

Aos participantes, é-lhes dito, previamente, para trazerem uma ideia de pequenas dimensões. Durante o encontro, essa ideia deverá encontrar, numa prega de sombra, numa concavidade da pele ou no vestuário, um lugar que a guarde. Neste movimento de transmutação, a ideia corporiza-se, tornando-se ideia coisa e tomando expressão (materialidade, configuração e medida), adequada ao lugar no corpo que a aloja.

Um segundo momento acontece ao longo da descida do monte encimado pelas ruínas do castelo. Aí, a ideia guardada e transportada encontra uma outra morada: é introduzida no interior da terra, por baixo da pedra, entre as folhas, no interior da árvore, na toca da formiga, no estômago do gafanhoto, no vento ou no corpo de outro participante…

Sofrerá, tal como no primeiro momento, uma adequação ao novo lugar.

Finalmente, num terceiro momento, um novo desenho – representação (síntese sensível) das sucessivas transmutações da ideia original – será preparado e apresentado na exposição colectiva.

Locais: Castelo de Montemor-o-Novo e Telheiro da Encosta do Castelo


  

CONVERSAS À VOLTA DO CENTRO

Além d@s 7 artistas, foram convidad@s 7 orador@s de várias áreas científicas e artísticas – astrofísica, filosofia, dança, programação cultural, arquitectura, curadoria e fotografia – para apresentar uma reflexão nas  CONVERSAS À VOLTA DO CENTRO.

As CONVERSAS À VOLTA DO CENTRO acontecem em dois momentos:

I

6 de Novembro de 2021 em Montemor-o-Novo

II

Março de 2022 na Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa

Nos mesmos dias das CONVERSAS, inauguramos a EXPOSIÇÃO com os trabalhos realizados nos WORKSHOPS e uma PERFORMANCE/ INSTALAÇÃO realizada para este evento por artistas convidados.

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2021 e 2022

OFICINAS DO CONVENTO