“Só as perguntas abrem portas” sintetiza num conjunto de 9 canções, o novo álbum de Luís Pucarinho. Se este autor nos habituou até aqui a refletirmos sobre lacunas sociais apontando a injustiças e direitos, neste trabalho Luís convida-nos a uma autorreflexão. Em cada canção podemos reconhecer um aspeto factual que revê nas nossas ações a possível contribuição para um resultado coletivo mais construtivo e funcional. Luís afirma “parte de cada um questionar as próprias atitudes e suas consequências “.
Neste trabalho visitamos sonoridades vindas de um quarteto clássico do rock, com as guitarras elétricas de Luís e Zé Peps, o Baixo de João Conceição e a bateria de Mário Lopes. A Voz de Luís cumpre na sua intrínseca identidade a capacidade de adaptar-se aos diferentes estilos musicais como provam este novo trabalho e os anteriores. Timbres frescos e melodias cativantes e prestação eficaz com letras profundas, fazem deste trabalho um abrir de portas à reflexão através da música.
SABE MAIS
Conheci a música de Luís Pucarinho na altura do seu segundo álbum a solo, “Orgânica mente humana”. Tinham já ficado para trás os Sons de Cá, o seu projecto em grupo, e também a estreia em nome próprio e em longa-duração com “Na Rua Amarela”, de 2011. Mas, de 2015 até aos dias de hoje, tenho tentado acompanhar a música deste cantautor ora mais próximo do rock ora bem fundado nas tradições portuguesas e nas do seu Alentejo natal. Vê-lo ao vivo foi aliás a confirmação da sua escrita bastante confessional, tal é por vezes o despojamento na sua entrega às canções que nos apresenta. E, seis anos depois de “Saiarodada”, o seu terceiro álbum a solo, Luís Pucarinho traz-nos o novo capítulo desta sua aventura musical: “Só as Perguntas Abrem Portas”.
E há de facto inquietação a rodos neste novo disco do cantautor nascido em Alcácer do Sal – isto desde a primeira faixa, “Animais”, onde nos diz “Não quero mais viver para tapar um vazio / E afundar o ser”. Vemos aqui o quotidiano dissecado por alguém que não fica “a ver a vida da janela”, mas que a sente na carne e que a transporta para as suas canções de uma forma despudorada. Luís Pucarinho interroga o mundo e interroga-se como ente criativo que faz parte do mesmo, envolvendo-nos num abraço em que nos faz recordar que “nós somos só pessoas”. Mas ele, que não é “quadrado nem articulado” no seu parecer, como canta em “Mãe”, não receia de facto mostrar as suas fragilidades como ser humano. É essa aliás uma das suas “fortalezas” como cantautor, inserindo-se numa linhagem que vem dos jograis medievais e que segue pelos cantores folk do século XX que mostraram a sua alma naquilo que cantavam, ao mesmo tempo que punham dedos nas feridas da sociedade.
João Carlos Callixto
- Música e Performance
7 DEZ 2024
OFICINAS DO CONVENTO
Horário
21h30
Local
Convento de são francisco, Montemor-o-Novo