A partir do elemento cerâmico do búcaro, que teve uma expressiva importância no período da Idade Moderna dos séculos XV, XVI e XVII em Portugal e em Espanha, o projeto “o tienes amor o comes barro” procura explorar as noções de estrangeiro, de outro e de alteridade.
Proveniente de Estremoz (Portugal), e dos territórios colonizados americanos do “Novo Mundo” como Nata (Panamá), Chile e Tonalá (Guadalajara, México), o búcaro era um pequeno vaso de barro avermelhado que se destinava a conter água perfumada que servia tanto para perfumar o ambiente como para beber. Também era ingerido pelas figuras da corte por acreditarem que o consumo do barro ajudava a clarear a pele, reforçando a branquitude como símbolo de distinção e de superioridade em relação aos povos colonizados de pele mais escura. Assim, mais do que um elemento utilitário, o búcaro era um dos símbolos de riqueza e de poder das elites ibéricas do início da Idade Moderna em Espanha e em Portugal, e representava o domínio imperial espanhol.
Durante o período de residência pretende-se produzir um conjunto de trabalhos em cerâmica para serem incluídos numa exposição no Centro de Arte Caja de Burgos (Espanha), em 2025.
Flávia Vieira (1983, Braga)
Através do uso predominante do têxtil e da cerâmica em contexto instalativo, o seu trabalho desenvolve-se a partir das narrativas culturais, históricas e políticas associadas aos processos do fazer, explorando noções de identidade, memória e representação coletiva, diáspora botânica e alteridade.
É graduada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Mestre em Comunicação e Artes pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e Doutorada em Poéticas Visuais e Processos de Criação pelo Instituto de Artes da Unicamp em São Paulo.
Expõe regularmente em Portugal e no estrangeiro, em particular no Brasil onde residiu, destacando-se as exposições individuais recentes Milagro, Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Guimarães (2024), Brasilina, KUBIKGallery, Porto (2022) e Hopes and Fears, KubikGallery, Porto (2019). Entre as exposições coletivas recentes, destacam-se: Ação à Distância, KUBIKGallery (2024), Jarra Humana, Museu de Arte Contemporânea de Elvas, Elvas (2024); Obscura Luz, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2022); Impluvium, Galeria Àngeles Baños, Badajoz (2022); Tisanas – Infusões para Tempos Modernos, Fundação Eugénio de Almeida, Évora (2022).
Entre outras, o seu trabalho integra as coleções do Instituto Inhotim (Brasil), a Coleção de Arte Contemporânea do Estado – CACE (Portugal), a Coleção Municipal de Arte da Câmara Municipal de Lisboa (Portugal), a Coleção Municipal de Arte da Câmara Municipal do Porto – PLÁKA (Portugal) e a Coleção Norlinda e José Lima (Portugal).
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