“Kilim from the kiln”
Residência Artística

Katarina Zivkovic consagrou-se a vencedora do Concurso de Residências Artísticas Tijolo 2023, e vai desenvolver o seu projeto “Kilim from the kiln” na Oficinas do Convento.

O projeto “Kilim from the Kiln” tem como objetivo juntar várias técnicas artesanais, que incluem materiais de construção feitos à mão e tapetes kilim com tecidos artesanais, comprando as semelhanças entre dois materiais naturais – terra e lã. O propósito do projeto é criar um chão de tijolo em mosaico que sublinhe o potencial destes simples, embora versáteis, materiais, ao mesmo tempo que são replicados os design comuns encontrados nestes tapetes tradicionais.

A inspiração para este projeto advém de uma herança cultural vinda da Sérvia e Portugal, particularmente no uso de materiais naturais em contexto de construção e design. Os padrões geométricos e decorativos dos kilims sérvios servem como ponto de partida para o projeto, embora a artista esteja interessada em na manufatura tradicional de tapetes e mantas do Alentejo. Através da exploração destas tradições, a artista espera identificar semelhanças e investigar a forma como podem ser incorporadas e apresentadas através do design do tijolo.


Katarina considera a relação entre a tecelagem de kilims e a alvenaria de tijolo interessante, uma vez que ambas dependem de materiais naturais como a lã e a terra, ao mesmo tempo que seguem uma progressão linear semelhante da base para o topo, resultando numa matriz graficamente comparável. O design do chão de tijolo baseia-se na análise dos tapetes sérvios tradicionais e na incorporação dos seus padrões geométricos e decorações. Este processo vai permitir à artista experimentar diferentes tamanhos, formas e tonalidades dos tijolos, ao usar todo o conhecimento  e tecnologias disponíveis no Telheiro da Encosta do Castelo para atingir o efeito desejado

Recentemente, Katarina interessou-se profundamente na arte tradicional da tecelagem dos tapetes kilims na Sérvia. Estudou técnicas, decorações, e os propósitos por de trás destas criações. Um dos aspetos mais distintos dos tapetes sérvios é o uso de padrões geométricos, que muitas vezes representam boa sorte, bem-estar e prosperidade. Tendo em conta a sua significância, estes kilims são muitas vezes mantidos como amuletos das casas ou oferecidos como presentes. O que fascina mais a artista relativamente a estas técnicas de tecelagem é que oferecem a estes tapetes o mesmo design dos dois lados, tornando-os conhecidos como “kilims de duas caras”.
De acordo com um ditado antigo, estes tapetes podiam ser usados até 200 anos – os primeiros 100 anos com uma das faces do tapete para cima, e os 100 anos seguintes com a outra face.

Historicamente, a tecelagem era considerada uma profissão masculina, mas ao longo do tempo ficou associada predominantemente às mulheres. Em contraste, a construção tem sido considerada uma profissão masculina, mas muitas mulheres estão agora a anetrar nesse território. Na Sérvia não é do conhecimento geral de que no passado as mulheres eram responsáveis por manter os rebocos nas casas de terra. O projeto procura combinar estes papéis de género tradicionais de forma a explorar semelhanças entre tecelagem e construção com materiais naturais.

Ao mesmo tempo que a artista está interessada em aprender e experimentar com os tijolos cozidos, também tem curiosidade em explorar a área de Montemor-o-novo e colecionar pigmenteos que podem ser usados  para criar uma palette única para tijolos adobe. Ao adicionar recursos locais disponíveis como a cal ou freixo, é esperado que se crie uma gama de cores que possam refletir a paisageme envolvente.

Quer sejam usados os tijolos cozidos ou secos, o chão será construído sem o uso de cimento. Em vez disso, os tijolos vão ser dispostos numa camada de areia. A artista crê que os objetos feitos à mão estão profundamente ligados à comunidade, aos recursos locais, à tradição e ao trabalho artesanal. Este tipo de objetos têm como intenção durar e serem valorizados na transmissão de histórias.

O tempo que esteve em Montemor-o-Novo permitiu-lhe para explorar o processo de criação de tijolos artesanais a partir do barro local e o quase esquecido ofício da tecelagem manual de mantas tradicionais alentejanas, criando um piso de tijolo para um espaço comum nas Oficinas do Convento.

O piso de tijolos não só incorporará os padrões vibrantes encontrados nas mantas alentejanas, mas também incorporará símbolos dos kilims sérvios tecidos à mão. O padrão de losango ou diamante, um motivo universal predominante tanto em mantas quanto em kilims, tem um significado especial. No contexto dos kilims, simboliza o ato de reunir-se em torno da mesa, enfatizando a união. A paleta de cores do piso de tijolos foi desenvolvida através da experimentação com diversos tipos de argila, pigmentos e temperaturas de cozedura. A variação inerente aos tijolos artesanais e à lã como material contribui para a complexidade geral e a singularidade tanto do piso de tijolos quanto dos padrões tecidos à mão.

A apresentação do resultado da Residência artística, vai acontecer na sexta-feira, 6 de Outubro às 18h no Convento de S. Francisco.

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6 out 2023

OFICINAS DO CONVENTO