Pré-Histórias Queers
Pedro Queirós

O artista Pedro Queirós consagrou-se o grande vencedor do Concurso de Residências Artísticas Tradição><Contemporâneo com o projecto “Pré-Histórias Queers”. Esta residência vai ser desenvolvida na Oficinas do Convento durante os meses de Julho e Agosto de 2021.

É conhecido e assumido nos tempos presentes, que desde o inicío da civilização ou de uma história do Homem, que as narrativas queer e o seu património cultural tem sido invisibílizados ao logo dos séculos. Ou, quando não o são, são assimilados por estruturas de poder vigentes, retirando destas narrativas as qualidades alvo de interesse, recolocando-as em outros contextos normativos de interesse a estas estruturas, esvaziando assim a origem destas mesmas narrativas.

Este projecto artístico, prende-se com esta invisibilização e assimilação que continua em acção nos tempos decorrentes, e que cada vez mais, através de outras áreas do conhecimento de investigação, tem-se vindo a descobrir em como existiu desde sempre, desde que se conhece o Homem. Mais especificamente e em concreto, o foco do pensamento artístico deste projecto, sinaliza-se num período de uma Pré-História, mais concretamente ainda, entre período que engloba o Paleolitico, Neolítico e o Calcolítico, na área do Alentejo, das antas e menires de Montemor-o-Novo às de Castelo de Vide, onde os achados arqueológicos encontrados nestas construções megalíticas conduzem-nos hoje para um melhor conhecimento destas civilizações passadas. Estes objectos cerâmicos, placas de xisto e bácuos serão os objectos de estudo e inspiração a serem recongurados num exercício artístico, que é o de trazer visibilidade a todo um imaginário pagão queer que terá sido esvaziado ao longo de séculos. Trata-se assim, do exercício de através da criação de novos objectos cerâmicos e outros, com base em espólios de séculos passados, voltar a se falar sobre estes mitos queer e narrativas em menires de outros tempos.

A base deste objeto artístico, de uma narrativa queer do período da Pré-história, tem na sua constituição uma colecção, ou uma série de objetos cerâmicos e outros, que iram ser executados perante um estudo prévio de pesquisa de achados arqueológicos existentes. Perante essa pesquisa, há já alguns pontos formais que o artista considera serem promissores de serem apropriados e devolvidos numa nova abordagem de criação, como por exemplo os vasos cerâmicos com saliências encontrados na Anta Grande da Comenda da Igreja em Montemor-o-Novo, ou o bácuo de formas serrilhadas encontrada na Herdade das Antas. Em termos de forma, assinalam dois pontos viáveis de experimentação formal desta série de peças, ou seja, pela moldagem de formas através de saliências, e da extração do material para motivos geométricos e formais. Sendo que a ideia principal do manuseamento da pasta cerâmica, seria a de criar objetos cerâmicos com a finalidade destes mesmos objetos conterem ou transmitirem alguma tensão “queer” por assim dizer. Estes aspectos destas peças assinaladas desvendam já bastantes pistas, abrindo possibilidades na elaboração de formas narrativas queer, ou de formas identificáveis como temáticas queer (como por exemplo as formas fálicas associadas a leituras anteriores em textos da arqueologia sobre o mistério da simbologia do bácuo serrilhado encontrado em Montemor-o-Novo. Simbologia fálica reminiscentes de um “culto fálico” destas sociedades já bastantes sofisticadas das construções megalíticas, ou símbolos de poder civil ou de poder civil e religioso simultaneamente, como é frequente acontecer nas sociedades agro-pastoris de carácter tradicional?

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